domingo, 17 de agosto de 2014
terça-feira, 8 de julho de 2014
“Your real, new self (which is Christ's and also yours, and yours just because it is His) will not come as long as you are looking for it. It will come when you are looking for Him. Does that sound strange? The same principle holds, you know, for more everyday matters. Even in social life, you will never make a good impression on other people until you stop thinking about what sort of impression you are making. Even in literature and art, no man who bothers about originality will ever be original whereas if you simply try to tell the truth (without caring twopence how often it has been told before) you will, nine times out of ten, become original without ever having noticed it. The principle runs through all life from top to bottom, Give up yourself, and you will find your real self. Lose your life and you will save it. Submit to death, death of your ambitions and favourite wishes every day and death of your whole body in the end submit with every fibre of your being, and you will find eternal life. Keep back nothing. Nothing that you have not given away will be really yours. Nothing in you that has not died will ever be raised from the dead. Look for yourself, and you will find in the long run only hatred, loneliness, despair, rage, ruin, and decay. But look for Christ and you will find Him, and with Him everything else thrown in.”
― C.S. Lewis, Mere Christianity
― C.S. Lewis, Mere Christianity
“Give me all of you!!! I don’t want so much of your time, so much of your talents and money, and so much of your work. I want YOU!!! ALL OF YOU!! I have not come to torment or frustrate the natural man or woman, but to KILL IT! No half measures will do. I don’t want to only prune a branch here and a branch there; rather I want the whole tree out! Hand it over to me, the whole outfit, all of your desires, all of your wants and wishes and dreams. Turn them ALL over to me, give yourself to me and I will make of you a new self---in my image. Give me yourself and in exchange I will give you Myself. My will, shall become your will. My heart, shall become your heart.”
― C.S. Lewis, Mere Christianity
― C.S. Lewis, Mere Christianity
sexta-feira, 27 de junho de 2014
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Desmembramento de um semicírculo
Certo que nos dedicamos
a místicas peregrinações.
Exercitamos a respiração,
lutamos brigas orientais,
praticamos uma e sete vezes
a tradução do poema chileno.
Mas no fundo sabemos
que o que importa mesmo
é roçar a superfície negra
da pele do peito do anjo
que está vivo
que não dorme.
Matilde Campilho
Certo que nos dedicamos
a místicas peregrinações.
Exercitamos a respiração,
lutamos brigas orientais,
praticamos uma e sete vezes
a tradução do poema chileno.
Mas no fundo sabemos
que o que importa mesmo
é roçar a superfície negra
da pele do peito do anjo
que está vivo
que não dorme.
Matilde Campilho
Visões luso-brasileiras
A vantagem de não viver no Brasil é que à boa maneira portuguesa se pode viver num país e ter saudades de outro, estar aqui e acolá ao mesmo tempo, corpo de um lado e esperança no outro, sol aqui e tropicalismo lá. Divisões unificadas pela lingua, pela visão antagónica do mundo, aqui triste e em tons pastel, lá rejubilante e gargalhável. Visão do passado e de um futuro, no presente aqui, entre cá e lá.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Would we have Lucy in the Sky with Diamonds had the Beatles not taken LSD?
http://blogs.scientificamerican.com/mind-guest-blog/2013/11/22/creativity-madness-and-drugs/
Eu não Quero o Presente, Quero a Realidade
Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
No Rush
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Pessoa em prosa
1- Alma e Realidade, Duas Paisagens Sobrepostas - Em todo o momento de actividade mental acontece em nós um duplo fenómeno de percepção: ao mesmo tempo que tempos consciência de um estado de alma, temos diante de nós, impressionando-nos os sentidos que estão virados para o exterior, uma paisagem qualquer, entendendo por paisagem, para conveniência de frases, tudo o que forma o mundo exterior num determinado momento da nossa percepção.
2 - Todo o estado de alma é uma passagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E - mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem - pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser "Há sol nos meus pensamentos", ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes.
3 - Assim, tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, tempos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora, essas paisagens fundem-se, interpenetram-se, de modo que o nosso estado de alma, seja ele qual for, sofre um pouco da paisagem que estamos vendo - num dia de sol uma alma triste não pode estar tão triste como num dia de chuva - e, também, a paisagem exterior sofre do nosso estado de alma - é de todos os tempos dizer-se, sobretudo em verso, coisas como que «na ausência da amada o sol não brilha», e outras coisas assim. De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de a dar através duma representação simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior. Resulta que terá de tentar dar uma intersecção de duas paisagens. Têm de ser duas paisagens, mas pode ser - não se querendo admitir que um estado de alma é uma paisagem - que se queira simplesmente interseccionar um estado de alma (puro e simples sentimento) com a paisagem exterior. [...]
Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
2 - Todo o estado de alma é uma passagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E - mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem - pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser "Há sol nos meus pensamentos", ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes.
3 - Assim, tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, tempos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora, essas paisagens fundem-se, interpenetram-se, de modo que o nosso estado de alma, seja ele qual for, sofre um pouco da paisagem que estamos vendo - num dia de sol uma alma triste não pode estar tão triste como num dia de chuva - e, também, a paisagem exterior sofre do nosso estado de alma - é de todos os tempos dizer-se, sobretudo em verso, coisas como que «na ausência da amada o sol não brilha», e outras coisas assim. De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de a dar através duma representação simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior. Resulta que terá de tentar dar uma intersecção de duas paisagens. Têm de ser duas paisagens, mas pode ser - não se querendo admitir que um estado de alma é uma paisagem - que se queira simplesmente interseccionar um estado de alma (puro e simples sentimento) com a paisagem exterior. [...]
Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
Que maçada!
(...)
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Fernando Pessoa
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Fernando Pessoa
Cuidado. Pensar mata.
Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente...
Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu. (Acho tão Natural que não se Pense)
Fernando Pessoa
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente...
Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu. (Acho tão Natural que não se Pense)
Fernando Pessoa
Deus fala ao ouvido do pequeno ser
É que tudo já me parece perdido,
desprovido de uma energia potencial que
sarando todas feridas,
cura mentes e dá sentido.
Nesse propósito vê-se a dinâmica, o movimento,
(já não estrelar e dependente do astrolábio)
aquele que vai de lá para cá e de cá para lá e se prende na ponta do pêndulo até bater na parede. Pum!
Rumou a outra banda e pensou - já não o fazia há algum tempo, agora que pensa nisso... - e aí ponderou, até deixar de sentir e ter as visceras acesas que ajudam a decidir.
Só essas importam, só essas dão a coragem e o batuque da partida que ajuda a largar.
Ainda aí estás? Ainda bem!
Dizia,
Agora que esse maldito pêndulo se soltou,
na boca de um batráquio ruminante (daqueles que comem metais)
- delirou!
Oh não, pensou.
É igualmente terrivel, diz Deus ao ouvido do homem presumido.
Crescei, crescei ó tenras criaturas.
Deixai a cabeça e usai o que vos dei.
Partiu-se? Como assim? Não era de carne?
Pois, lição divina nº1 - a carne regenera. "Não separe o homem o que Deus uniu".
Integrai-vos.
Tudo em um e um em tudo.
desprovido de uma energia potencial que
sarando todas feridas,
cura mentes e dá sentido.
Nesse propósito vê-se a dinâmica, o movimento,
(já não estrelar e dependente do astrolábio)
aquele que vai de lá para cá e de cá para lá e se prende na ponta do pêndulo até bater na parede. Pum!
Rumou a outra banda e pensou - já não o fazia há algum tempo, agora que pensa nisso... - e aí ponderou, até deixar de sentir e ter as visceras acesas que ajudam a decidir.
Só essas importam, só essas dão a coragem e o batuque da partida que ajuda a largar.
Ainda aí estás? Ainda bem!
Dizia,
Agora que esse maldito pêndulo se soltou,
na boca de um batráquio ruminante (daqueles que comem metais)
- delirou!
Oh não, pensou.
É igualmente terrivel, diz Deus ao ouvido do homem presumido.
Crescei, crescei ó tenras criaturas.
Deixai a cabeça e usai o que vos dei.
Partiu-se? Como assim? Não era de carne?
Pois, lição divina nº1 - a carne regenera. "Não separe o homem o que Deus uniu".
Integrai-vos.
Tudo em um e um em tudo.
Iguaçu
Saudades malucas de um tempo perdido,
só visto em mim.
Tu que lá estavas
tão presente,
tão em Ti e mim,
fascinio total,
perdição dos sentidos,
ó Tu, ficaste ali?!
Iguaçu, força bruta,
maravilha dos astros conspirantes,
reboliço, salpicos e sons de um outro mundo.
Mundo que abriste em mim,
Livre de pressas, livre de passos,
solta ao ar, só de Ti, minha prisão.
E agora ver-te aí,
tão longe, tão livre de mim,
aperta-me na saudade de um dia,
que me pareceu a eternidade.
Beleza pura de um tempo perdido
Nada interessa nada,
Nada é tudo
e tudo é vão.
Via Láctea do tempo
infinito, perdido nos ares,
há quem o pare?
Há quem diga o que vale?
Vale nada!
E nada sobre nada é tudo
aquilo que nos resta.
O melhor salto, maior liberdade,
Rumo a lado nenhum.
Nada é tudo
e tudo é vão.
Via Láctea do tempo
infinito, perdido nos ares,
há quem o pare?
Há quem diga o que vale?
Vale nada!
E nada sobre nada é tudo
aquilo que nos resta.
O melhor salto, maior liberdade,
Rumo a lado nenhum.
WISLAWA SZYMBORSKA
Autotomia
Diante do perigo, a holotúria se divide em duas:
deixando uma sua metade ser devorada pelo mundo,
salvando-se com a outra metade.
Ela se bifurca subitamente em naufrágio e salvação,
em resgate e promessa, no que foi e no que será.
No centro do seu corpo irrompe um precipício
de duas bordas que se tornam estranhas uma à outra.
Sobre uma das bordas, a morte, sobre outra, a vida.
Aqui o desespero, ali a coragem.
Se há balança, nenhum prato pesa mais que o outro.
Se há justiça, ei-la aqui.
Morrer apenas o estritamente necessário, sem ultrapassar a medida.
Renascer o tanto preciso a partir do resto que se preservou.
Nós também sabemos nos dividir, é verdade.
Mas apenas em corpo e sussurros partidos.
Em corpo e poesia.
Aqui a garganta, do outro lado, o riso,
leve, logo abafado.
Aqui o coração pesado, ali o Não Morrer Demais,
três pequenas palavras que são as três plumas de um vôo.
O abismo não nos divide.
O abismo nos cerca.
Diante do perigo, a holotúria se divide em duas:
deixando uma sua metade ser devorada pelo mundo,
salvando-se com a outra metade.
Ela se bifurca subitamente em naufrágio e salvação,
em resgate e promessa, no que foi e no que será.
No centro do seu corpo irrompe um precipício
de duas bordas que se tornam estranhas uma à outra.
Sobre uma das bordas, a morte, sobre outra, a vida.
Aqui o desespero, ali a coragem.
Se há balança, nenhum prato pesa mais que o outro.
Se há justiça, ei-la aqui.
Morrer apenas o estritamente necessário, sem ultrapassar a medida.
Renascer o tanto preciso a partir do resto que se preservou.
Nós também sabemos nos dividir, é verdade.
Mas apenas em corpo e sussurros partidos.
Em corpo e poesia.
Aqui a garganta, do outro lado, o riso,
leve, logo abafado.
Aqui o coração pesado, ali o Não Morrer Demais,
três pequenas palavras que são as três plumas de um vôo.
O abismo não nos divide.
O abismo nos cerca.
segunda-feira, 5 de maio de 2014
sexta-feira, 2 de maio de 2014
"you were the best of all my days"
ANIMALS
Have you forgotten what we were like then
when we were still first rate
and the day came fat with an apple in its mouth
it's no use worrying about Time
but we did have a few tricks up our sleeves
and turned some sharp corners
the whole pasture looked like our meal
we didn't need speedometers
we could manage cocktails out of ice and water
I wouldn't want to be faster
or greener than now if you were with me O you
were the best of all my days
Frank O`Hara
Have you forgotten what we were like then
when we were still first rate
and the day came fat with an apple in its mouth
it's no use worrying about Time
but we did have a few tricks up our sleeves
and turned some sharp corners
the whole pasture looked like our meal
we didn't need speedometers
we could manage cocktails out of ice and water
I wouldn't want to be faster
or greener than now if you were with me O you
were the best of all my days
Frank O`Hara
domingo, 27 de abril de 2014
sábado, 26 de abril de 2014
quinta-feira, 24 de abril de 2014
John Keats (1795–1821) Ode to a Nightingale
MY heart aches, and a drowsy numbness pains
My sense, as though of hemlock I had drunk,
Or emptied some dull opiate to the drains
One minute past, and Lethe-wards had sunk:
'Tis not through envy of thy happy lot, 5
But being too happy in thine happiness,
That thou, light-wingèd Dryad of the trees,
In some melodious plot
Of beechen green, and shadows numberless,
Singest of summer in full-throated ease. 10
O for a draught of vintage! that hath been
Cool'd a long age in the deep-delvèd earth,
Tasting of Flora and the country-green,
Dance, and Provençal song, and sunburnt mirth!
O for a beaker full of the warm South! 15
Full of the true, the blushful Hippocrene,
With beaded bubbles winking at the brim,
And purple-stainèd mouth;
That I might drink, and leave the world unseen,
And with thee fade away into the forest dim: 20
Fade far away, dissolve, and quite forget
What thou among the leaves hast never known,
The weariness, the fever, and the fret
Here, where men sit and hear each other groan;
Where palsy shakes a few, sad, last grey hairs, 25
Where youth grows pale, and spectre-thin, and dies;
Where but to think is to be full of sorrow
And leaden-eyed despairs;
Where beauty cannot keep her lustrous eyes,
Or new Love pine at them beyond to-morrow. 30
Away! away! for I will fly to thee,
Not charioted by Bacchus and his pards,
But on the viewless wings of Poesy,
Though the dull brain perplexes and retards:
Already with thee! tender is the night, 35
And haply the Queen-Moon is on her throne,
Cluster'd around by all her starry Fays
But here there is no light,
Save what from heaven is with the breezes blown
Through verdurous glooms and winding mossy ways. 40
I cannot see what flowers are at my feet,
Nor what soft incense hangs upon the boughs,
But, in embalmèd darkness, guess each sweet
Wherewith the seasonable month endows
The grass, the thicket, and the fruit-tree wild; 45
White hawthorn, and the pastoral eglantine;
Fast-fading violets cover'd up in leaves;
And mid-May's eldest child,
The coming musk-rose, full of dewy wine,
The murmurous haunt of flies on summer eves. 50
Darkling I listen; and, for many a time
I have been half in love with easeful Death,
Call'd him soft names in many a musèd rhyme,
To take into the air my quiet breath;
Now more than ever seems it rich to die, 55
To cease upon the midnight with no pain,
While thou art pouring forth thy soul abroad
In such an ecstasy!
Still wouldst thou sing, and I have ears in vain—
To thy high requiem become a sod. 60
Thou wast not born for death, immortal Bird!
No hungry generations tread thee down;
The voice I hear this passing night was heard
In ancient days by emperor and clown:
Perhaps the self-same song that found a path 65
Through the sad heart of Ruth, when, sick for home,
She stood in tears amid the alien corn;
The same that ofttimes hath
Charm'd magic casements, opening on the foam
Of perilous seas, in faery lands forlorn. 70
Forlorn! the very word is like a bell
To toll me back from thee to my sole self!
Adieu! the fancy cannot cheat so well
As she is famed to do, deceiving elf.
Adieu! adieu! thy plaintive anthem fades 75
Past the near meadows, over the still stream,
Up the hill-side; and now 'tis buried deep
In the next valley-glades:
Was it a vision, or a waking dream?
Fled is that music:—do I wake or sleep?
My sense, as though of hemlock I had drunk,
Or emptied some dull opiate to the drains
One minute past, and Lethe-wards had sunk:
'Tis not through envy of thy happy lot, 5
But being too happy in thine happiness,
That thou, light-wingèd Dryad of the trees,
In some melodious plot
Of beechen green, and shadows numberless,
Singest of summer in full-throated ease. 10
O for a draught of vintage! that hath been
Cool'd a long age in the deep-delvèd earth,
Tasting of Flora and the country-green,
Dance, and Provençal song, and sunburnt mirth!
O for a beaker full of the warm South! 15
Full of the true, the blushful Hippocrene,
With beaded bubbles winking at the brim,
And purple-stainèd mouth;
That I might drink, and leave the world unseen,
And with thee fade away into the forest dim: 20
Fade far away, dissolve, and quite forget
What thou among the leaves hast never known,
The weariness, the fever, and the fret
Here, where men sit and hear each other groan;
Where palsy shakes a few, sad, last grey hairs, 25
Where youth grows pale, and spectre-thin, and dies;
Where but to think is to be full of sorrow
And leaden-eyed despairs;
Where beauty cannot keep her lustrous eyes,
Or new Love pine at them beyond to-morrow. 30
Away! away! for I will fly to thee,
Not charioted by Bacchus and his pards,
But on the viewless wings of Poesy,
Though the dull brain perplexes and retards:
Already with thee! tender is the night, 35
And haply the Queen-Moon is on her throne,
Cluster'd around by all her starry Fays
But here there is no light,
Save what from heaven is with the breezes blown
Through verdurous glooms and winding mossy ways. 40
I cannot see what flowers are at my feet,
Nor what soft incense hangs upon the boughs,
But, in embalmèd darkness, guess each sweet
Wherewith the seasonable month endows
The grass, the thicket, and the fruit-tree wild; 45
White hawthorn, and the pastoral eglantine;
Fast-fading violets cover'd up in leaves;
And mid-May's eldest child,
The coming musk-rose, full of dewy wine,
The murmurous haunt of flies on summer eves. 50
Darkling I listen; and, for many a time
I have been half in love with easeful Death,
Call'd him soft names in many a musèd rhyme,
To take into the air my quiet breath;
Now more than ever seems it rich to die, 55
To cease upon the midnight with no pain,
While thou art pouring forth thy soul abroad
In such an ecstasy!
Still wouldst thou sing, and I have ears in vain—
To thy high requiem become a sod. 60
Thou wast not born for death, immortal Bird!
No hungry generations tread thee down;
The voice I hear this passing night was heard
In ancient days by emperor and clown:
Perhaps the self-same song that found a path 65
Through the sad heart of Ruth, when, sick for home,
She stood in tears amid the alien corn;
The same that ofttimes hath
Charm'd magic casements, opening on the foam
Of perilous seas, in faery lands forlorn. 70
Forlorn! the very word is like a bell
To toll me back from thee to my sole self!
Adieu! the fancy cannot cheat so well
As she is famed to do, deceiving elf.
Adieu! adieu! thy plaintive anthem fades 75
Past the near meadows, over the still stream,
Up the hill-side; and now 'tis buried deep
In the next valley-glades:
Was it a vision, or a waking dream?
Fled is that music:—do I wake or sleep?
quarta-feira, 23 de abril de 2014
ORIGEM DOS SONHOS ESQUECIDOS
Entre a bicicleta e a laranja
vai a distância de uma camisa branca
Entre o pássaro e a bandeira
vai a distância de um relógio solar
Entre a janela e o canto do lobo
vai a distância dum lago desesperado
Entre mim e a bola de bilhar
vai a distância dum sexo fulgurante
Qualquer pedaço de floresta ou tempestade
pode ser a distância
entre os teus braços fechados em si mesmos
e a noite encontrada para além do grito das panteras
Qualquer grito de pantera
pode ser a distância
entre os teus passos
e o caminho em que eles se desfazem lentamente
Qualquer caminho
pode ser a distância
entre tu e eu
Qualquer distância
entre tu e eu
é a única e magnífica existência
do nosso amor que se devora sorrindo
MÁRIO HENRIQUE LEIRIA
Entre a bicicleta e a laranja
vai a distância de uma camisa branca
Entre o pássaro e a bandeira
vai a distância de um relógio solar
Entre a janela e o canto do lobo
vai a distância dum lago desesperado
Entre mim e a bola de bilhar
vai a distância dum sexo fulgurante
Qualquer pedaço de floresta ou tempestade
pode ser a distância
entre os teus braços fechados em si mesmos
e a noite encontrada para além do grito das panteras
Qualquer grito de pantera
pode ser a distância
entre os teus passos
e o caminho em que eles se desfazem lentamente
Qualquer caminho
pode ser a distância
entre tu e eu
Qualquer distância
entre tu e eu
é a única e magnífica existência
do nosso amor que se devora sorrindo
MÁRIO HENRIQUE LEIRIA
HOJE,
O dia não foi meu
e tantos outros que o não são
erro no calendário
ou voluntária distracção
E os dias que foram meus
gestos de outros são
que se dão a quem os quer
nos dias que o não são
E da pressa de os perder
do cansaço de os contar
ganho vícios da noite
que me sabem perdurar
MARCELINO VESPEIRA
O dia não foi meu
e tantos outros que o não são
erro no calendário
ou voluntária distracção
E os dias que foram meus
gestos de outros são
que se dão a quem os quer
nos dias que o não são
E da pressa de os perder
do cansaço de os contar
ganho vícios da noite
que me sabem perdurar
MARCELINO VESPEIRA
SURREALISMO, n. m. Automatismo psíquico puro, pelo qual propõe-se exprimir, tanto verbalmente, tanto pela escrita, tanto por qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. Ditação do pensamento, na ausência de todo controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética ou moral
POW!
"Escrita automática é o processo de produção de material escrito que objetiva evitar os pensamentos conscientes do autor, através do fluxo do inconsciente. É um método de escrita criado pelos dadaístas, mais especificamente pelo posterior líder do movimento surrealista, André Breton, no ano de 1919 ou por Tristan Tzara. Ou seja, para a literatura, se trata somente de um método literário defendido, principalmente, pela vanguarda surrealista.
Através da escrita automática o eu do poeta se manifestaria livremente de qualquer repressão da consciência e deixaria crescer o poder criador do homem fora de qualquer influxo castrante. Seu propósito é vencer a censura que se exerce sobre o inconsciente, libertando-o através de atos criativos não programados e sem sentido imediato para a consciência, os quais escapam à vontade do autor".
Através da escrita automática o eu do poeta se manifestaria livremente de qualquer repressão da consciência e deixaria crescer o poder criador do homem fora de qualquer influxo castrante. Seu propósito é vencer a censura que se exerce sobre o inconsciente, libertando-o através de atos criativos não programados e sem sentido imediato para a consciência, os quais escapam à vontade do autor".
A vida alguma vez não é uma obra de arte?!
"Jacques Vaché, filho espiritual de Alfred Jarry, um jovem sarcástico e niilista que viveu a vida como se de uma obra de arte se tratasse"
Alex O`neill y su perrito
CÃO
Cão passageiro, cão estrito,
cão rasteiro cor de luva amarela,
apara-lápis, fraldiqueiro,
cão liquefeito, cão estafado,
cão de gravata pendente,
cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
cão ululante, cão coruscante,
cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão além, e sempre cão.
Cão marrado, preso por um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia-a-dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal da poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moído de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção, cão prefabricado,
cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,
cão de olhos que afligem,
cão-problema...
Sai depressa, ó cão, deste poema!
Surreal!
"Mário Cesariny de Vasconcelos nasceu, por acaso, na Vila Edith, na Estrada da Damaia, em Benfica, onde os pais estavam a passar férias".
Superman!
Uma cadência, um bailado de risos
Ver-te olhar sem querer e ver em tanto o teu olhar.
Resumi.
Resumi-me para parar.
O movimento não acerta, Deus não aceita em nós que queiramos tanto de tão incerta voz, tanto tremelique, tanta letra errónea numa página.
E porque assim é, guiei-me por um carro que um dia atravessou o mar. Pierrot! Ele nunca se chamou Pierrot e ainda assim insistias em lhe chamar... Não serve.
Serve pouco, sobra espaço, apodrece o tempo, morre o movimento de lentidão.
Se tudo fosse, ainda que com uma maçã dentada, seria. Contra Deus ou ainda que viesse o
SUPERMAN!
Ver-te olhar sem querer e ver em tanto o teu olhar.
Resumi.
Resumi-me para parar.
O movimento não acerta, Deus não aceita em nós que queiramos tanto de tão incerta voz, tanto tremelique, tanta letra errónea numa página.
E porque assim é, guiei-me por um carro que um dia atravessou o mar. Pierrot! Ele nunca se chamou Pierrot e ainda assim insistias em lhe chamar... Não serve.
Serve pouco, sobra espaço, apodrece o tempo, morre o movimento de lentidão.
Se tudo fosse, ainda que com uma maçã dentada, seria. Contra Deus ou ainda que viesse o
SUPERMAN!
Fisher
Esse dia de sol em que te vi, descia o morro
a cabeça aí e eu ali, sem ver o que via, sem pensar no que queria.
No que queria?
No que quereria?
Não sei. Sei que quando o mar virou o barco dos pescadores em Valencia derrubou tanto quanto podia em mim. E assim o fez.
a cabeça aí e eu ali, sem ver o que via, sem pensar no que queria.
No que queria?
No que quereria?
Não sei. Sei que quando o mar virou o barco dos pescadores em Valencia derrubou tanto quanto podia em mim. E assim o fez.
terça-feira, 22 de abril de 2014
Nós, os humanos verdadeiros
http://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/17/opinion/1392640036_999835.html
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
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